Estrutura Atômica 01 - Da Alquimia ao Átomo de Dalton

De que é composta a matéria?



Olhe a sua volta, cadeiras, mesas, computadores, casas, prédios... enfim, de que tudo é feito? Será que existe um princípio comum? Se existe, como se faz para ter tanta coisa diferente no nosso planeta? E em outras partes do universo, a matéria se compõe do mesmo jeito?


Para responder essa pergunta vamos voltar cerca de 25 séculos, até a Grécia antiga, onde estão os primeiros relatos sobre estudos da composição da matéria. Numa época em que a química como ciência sequer existia, os grandes pensadores da época, filósofos como Leucipo e Demócrito, se perguntavam de que era composta a matéria. Eles pensaram a respeito e concluíram que, caso uma pedra fosse dividida em pequenas partes, chegaria um momento em que seria impossível de dividir aquela parte da pedra. A essa partícula indivisível se deu o nome de átomo, que significa, em grego, literalmente, não divisível. Dessa forma o átomo seria a menor partícula de matéria que mantém as características e propriedades do material que dela é composto.

Ainda na Grécia, pouco tempo depois das teorias de Demócrito, outros grandes nomes da filosofia grega, Aristóteles e Platão, discordaram da teoria de Leucipo e Demócrito.  Para eles a matéria era formada por 4 elementos fundamentais, TERRA, AR, ÁGUA e FOGO, a mística teoria dos 4 elementos. Essa teoria foi utilizada para explicar a composição da matéria durante diversos anos, tanto que até hoje figura no imaginário de muitos de nós. Sendo bastante difundida e aceita pelos pilares da ciência na época, a Igreja, a Medicina e a Alquimia. Os alquimistas desempenharam um importante papel na história da Química. Praticada em diferentes culturas e desenvolvida ao longo de milênios, a alquimia buscava principalmente a transformação de metais comuns em ouro ou prata e o elixir da vida. Mas talvez a grande contribuição da alquimia para a química foi aliar aos princípios filosóficos a parte experimental.

Em 1661, foi, justamente um entusiasta da experimentação, o cientista irlandês Robert Boyle que, se baseando em experimentos, provou que a matéria não pode ser formada pelos clássicos quatro elementos. Além disso ele retoma a hipótese que a matéria é formada por átomos e seus agrupamentos em movimento e que todos os fenômenos químicos são resultado das colisões dessas partículas. Em sua histórica publicação The Sceptical Chymist, Boyle reivindica que a Química não deveria mais ser subserviente à Medicina e à Alquimia, e que deveria ser elevada ao status de ciência. E ainda afirma, categoricamente, que qualquer teoria deveria ser provada experimentalmente antes de ser considerada verdadeira.
Apesar de todo o trabalho de Boyle, a teoria dos 4 elementos ainda era bastante aceita na época, coube ao químico francês Antoine-Laurent Lavoisier, após numerosos e cuidadosos experimentos provar que o ar não era um elemento e sim formado por elementos: “oxigênio” e “nitrogênio”. Lavoisier também demonstrou que a água poderia ser decomposta em “hidrogênio” e “oxigênio”. Provando de vez que a teoria dos quatro elementos estava equivocada. Lavoisier sempre foi retratado como um químico experimental e até hoje é conhecido como o “Pai da Química Moderna”, dentre as suas grandes contribuições para a ciência está a Lei da Conservação da Massa, que enuncia que:

 “Em uma reação química feita em recipiente fechado, a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos. ”

Até hoje uma das mais importantes leis da Química, tão popular que foi imortalizada na frase: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.  Pouco tempo depois Lavoisier começou a classificar os elementos químicos, até então 33 haviam sido descobertos diferente dos 4 elementos da teoria Sócrates e Platão.

No ano de 1797 outro grande cientista francês, Joseph Proust, baseado em uma série de experimentos, percebeu que além da Conservação da Massa em uma determinada reação química, havia também uma relação de proporcionalidade entre as massas dos reagentes e dos produtos formados. Em seus experimentos Proust perceber que ao reagir 4 gramas de hidrogênio com 32 gramas de oxigênio eram produzidas 36 gramas de água. Confirmando a teoria da conservação das massas a massa do produto, nesse caso a água é a soma das massas dos reagentes, oxigênio e hidrogênio. Porém em um segundo experimento Proust aumento as massas do hidrogênio e do oxigênio e percebeu que a massa da água formada aumentava proporcionalmente, e ao reduzir a massa do oxigênio e do hidrogênio a massa da água formada também era reduzida proporcionalmente. Pode-se perceber que a reação de formação da água sempre consome uma parte de hidrogênio para 8 partes de oxigênio. 

Baseado nesses experimentos Proust desenvolve outra importante lei da química a Lei das Proporções Definidas, onde:

“A proporção em massa dos reagentes e produtos de uma reação química é constante. ”

Na ciência quando se deseja explicar um determinado conceito muito abstrato, muitas vezes se constrói um modelo daquele conceito. Tomando como exemplo uma árvore, caso você desejasse desenhar um modelo que representasse uma árvore o primeiro desenho pode ser simples, destacando apenas o que você pode observar da árvore rapidamente. 
Caso você se dedique e melhore sua capacidade de observação pode melhorar seu desenho o tornando mais detalhando. Se alguém lhe informar que a árvore tem raízes enterradas na terra que a sustentam você pode melhorar seu modelo com essa informação. Com o uso de tecnologias mais avançadas você pode até criar um modelo 3D da sua árvore. Independentemente do nível de detalhamento do seu desenho, trata-se de um modelo que representa uma árvore e não da árvore propriamente dita. Seu modelo pode ser mais completo conforme você melhora sua capacidade de observação, tem acesso a novas informações e utiliza novas tecnologias. Com os modelos que descrevem o átomo se utilizou de estratégia semelhante, nenhum cientista sequer viu um átomo, porém se desenvolvem modelos para explicar suas propriedades e a cada nova descoberta o modelo vai sendo melhorado para que se possa chegar a um modelo mais coerente, que explique todas as propriedades observáveis da matéria.


E o primeiro modelo de átomo amplamente aceito no meio científico foi proposto pelo químico inglês John Dalton, em 1808, baseado em uma série de experimentos químicos construiu seu modelo para a composição da matéria, o modelo atômico de Dalton. Segundo o qual:

“Toda matéria é composta por minúsculas partículas indivisíveis, os átomos”
Sendo assim os elementos químicos descritos por Lavoisier são formados de átomos, dessa forma:

“Todos os átomos de um determinado elemento são idênticos entre si”
Isso explica as características semelhantes de todos os átomos do mesmo elemento, por exemplo, todos os átomos de hidrogênio têm a mesma massa e se comportam da mesma forma. Em contrapartida:

“Átomos de elementos diferentes apresentam massa e propriedades diferentes”
Dessa forma um átomo de hidrogênio possui massa e propriedades diferente de um átomo de oxigênio, por exemplo.

 “As reações químicas comuns não passam de uma reorganização dos átomos”
Dessa forma o Modelo de Dalton explica a Lei da Conservação da Massa, posto que sendo as reações apenas uma reorganização dos átomos, a massa sempre será a mesma.

“Os compostos são formados pela combinação de átomos de elementos diferentes em proporções fixas”.

Mais uma vez o Modelo de Dalton explica outra lei fundamental, a Lei de Proust ou Lei das Proporções Definidas.

É importante observarmos que o modelo de Dalton foi bastante aceito por explicar diversas características e propriedades da matéria que já se conheciam na época.


Pedro Lemos

Doutorando em química.

Química Básica - Tabela Periódica