Genoma Expresso

Nova técnica permite sequenciamento genético rápido e barato

Pesquisadores desenvolveram um novo método para o sequenciamento genético. Eles afirmam que com o sistema será possível mapear o DNA humano por menos de mil dólares (R$1.560) e em até duas horas. A previsão é que isto aconteça já em 2013.

O sistema não óptico tem como base um chip descartável que faz a leitura do DNA. O chip traduz as informações químicas do código genético (A, C, G, T) em um sistema binário de zeros e uns. “Da mesma forma que os chips de computadores, podemos fazer os chips descartáveis cada vez mais rápidos e baratos. 

O novo sistema é também 100 vezes mais rápido que os convencionais”, disse ao iG Jonathan Rothberg, principal autor do artigo publicado hoje no periódico científico Nature. Rothberg é fundador da empresa IonTorrent, criadora do chip e da máquina que faz o seqüenciamento.

O sequenciamento do primeiro genoma humano terminado em 2001 custou três bilhões de dólares (R$ 4,7 bilhões). De lá para cá, o preço caiu exponencialmente, mas a tecnologia usada tem sempre a mesma base: sistemas de leitura ópticos que exigem a infraestrutura de lasers e câmeras que custa caro.

No estudo, os pesquisadores sequenciaram o genoma de três bactérias diferentes (
Vibrio fisheri, E. coli e Rhodopseuomanas palustris) e de uma pessoa, que recebeu o nome de G. Moore. Como o chip da IonTorrent é feito em um processo similar ao da fabricação de chips para microcomputadores, não é coincidência que o G. seja de Gordon, fundador da Intel, gigante e pioneira da fabricação de microprocessadores.

Rothberg conta que graças ao chip não óptico, o código genético da bactéria E. coli foi decifrado rapidamente. Em junho, um surto da bactéria na Europa deixou mais de 2,4 mil pessoas doentes, ao menos 24 morreram.


Medicina personalizada

A nova técnica atende aos objetivos do Instituto Americano de Pesquisa em Genoma Humano que quer sequenciar o DNA de uma pessoa por menos de mil dólares e em menos de um dia. A máquina, batizada de Personal Genoma Machine (PGM), foi lançada em janeiro deste ano, custa 49 mil dólares (R$ 76 mil) e cada chip sai por 99 dólares (R$155).

No caso do sequenciamento de Moore foram fabricados chips com 10 vezes mais sensores do que os chips atualmente no mercado. “No artigo mostramos que superamos a limitação técnica. Acreditamos que em 2013 conseguiremos fazer um genoma humano completo por menos de mil dólares em menos de duas horas”, afirmou Rothberg.

Os pesquisadores também acreditam que o preço dos chips possa atender diversos estudos relacionados à saúde. “Atualmente o chip descartável está sendo usado para o estudo de doenças, testes genéticos e diagnóstico na área de câncer”. Este mês, a empresa lançou um novo chip dez vezes mais potente a um custo de 500 dólares (R$ 783).


A busca por um sistema de sequenciamento rápido e barato tem no seu cerne a medicina personalizada. Com a genética de um indivíduo em mãos, os médicos poderiam criar testes que avaliassem o risco de ele ter, por exemplo, predisposição a diabetes ou a um tipo de câncer.

Outra vertente seria ajudar os médicos a tomar a decisão de qual medicamento usar conforme a genética da pessoa. Isto já é feito em pequena escala com medicamentos como o Herceptin para câncer de mama que é eficaz em mulheres com um excesso de atividade no gene chamado HER2. Quanto mais informação genética estiver disponível, maiores serão as chances de que os cientistas consigam entender por que um tratamento funciona para uma pessoa e não para outra. Resta agora saber quanto tempo irá demorar para que seja possível fazer este tipo de diferenciação e em grande escala.

Pedro Lemos

Doutorando em química.

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